quinta-feira, dezembro 18, 2008

O Adeus de Roy Orbin ao Gospel Funk



Em 2005, o Gospel Funk perdeu uma figura importante. Roy Orbin, o vocalista do gênero responsável pelo orquestramento rítmico da seção de metais da primeira Big Band Gospel de todos os tempos, anunciava há exatos três anos que estava encerrando sua carreira após atritos com autoridades da cena envolvendo sua liberdade artística.

O enfrentamento começou em uma apresentação na Catedral da Encarnação de Maryland, na cidade de Baltimore. Roy e sua Big Band estavam como sempre fazendo o funk comer solto, recebendo apoio dos fiéis e equipe da igreja que dançavam com entusiasmo em nome do Senhor, até o momento em que Roy, dominado pelo auge do groove, cantou do ponto mais elevado do altar com os olhos fechados: "Vamos lá Irmãos!! Sintam o Funk e mexam esses traseiros!!! Vamos tirar as roupas e abraçar uns aos outros sob o amor do Senhor!! É isso ai, deixem Jesus entrar! Deixem Jesus entrar!!!". Essa descarga de energia paralisou os fiéis e os instrumentistas de sua banda, que observavam com espanto Roy sem camisa desabotoar sua calça.

O Reverendo Brown Rice, que estava presente nesta missa, conta que para ele Roy "claramente passou dos limites", e diz que o clima ficou bastante estranho após ele ter gentilmente convidado o vocalista a se retirar da igreja. "Até tentamos prosseguir com a cerimônia, mas muitas famílias sentindo-se contaminadas por tamanho sacrilégio se levantaram e foram partindo embaraçadas. Fomos obrigados a encerrar a missa antes mesmo da comunhão!" O reverendo confessa que não pretende mais convidar Roy e sua banda para animarem suas missas, e que se dependesse dele, Roy nunca mais deveria botar os pés numa igreja para cantar antes de ser exorcizado.


"Na Casa do Senhor ele não canta mais" dizia o Rev. Brown Rice

Após o incidente, Roy, que participava da cena Gospel Funk há mais de 16 anos, desabafou: "Eu não sei porque os fans de Baltimore implicaram com a minha música, cara", e lamentou: "eu fico sim um pouco magoado por não ter sido mais convidado para fazer shows lá. Eu animei tantos domingos, e agora grande parte dos bispos de lá nem respondem meus emails. É um pouco frustrante."

Mas Roy continuou cumprindo sua agenda e em um show para 3 mil pessoas na Igreja Adventista de Boston ele teve novamente sua apresentação interrompida bruscamente. "Olha, irmão, eu sempre tento colocar o público para dançar, se soltar e sentir seus corpos pulsando com fé! E naquele dia muitas pessoas já estavam recebendo essa Luz do Senhor, se entregando mesmo, e era hora de me entregar também, cara. Então fechei meus olhos e gemi como se uma mulher estivesse dando beijos nas minhas bolas ou acariciando meu traseiro, sabe como é? Mas quando abri os olhos e me dei conta, dois seguranças estavam me pegando pelos braços para me colocar para fora."

Tomado por um senso de rejeição após muitos cancelamentos de shows, Roy começou então a questionar a cena à qual pertencia: "Se Jesus é o caminho para a verdade de Deus, como canto nas minhas letras, não entendo por quê não posso cantar o funk como Deus faz correr em minhas veias. Deus está mentindo através de mim? Por que ele faria isso?". Muitas perguntas sem resposta fixaram-se na cabeça do artista devoto, que finalmente no dia 11 de dezembro de 2005 anunciou seu rompimento não apenas com a cena gospel funk, mas com qualquer ligação com a música. Em seu comunicado para a imprensa Roy afirmou que sua decisão não comprometia nenhuma relação que ele tinha com a sua vida espiritual e nem com sua prática religiosa, mas que era uma decisão necessária para um encontro verdadeiro com sua essência e conexões divinas.

Para os anos seguintes, Roy decidiu então que iria retomar seus estudos de antropologia social que havia largado em seus anos de faculdade e dedicar seu tempo exclusivamente às suas pesquisas. "Vou investigar as relações sociais dos chineses de Nova York (...) mas pra isso é importante que me considerem como um deles", dizia confiante - com um único receio: "espero que minha fama dos tempos do Gospel Funk não prejudique meu estudo."

A partir de então, nunca mais foi visto pelos seus antigos fãs ou mesmo pela imprensa. No entanto, um fotógrafo-amador recentemente fez um registro do que parece ser Roy Orbin já inserido no meio de seu objeto de pesquisa.



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