segunda-feira, março 10, 2008

Passo Alegre, um exemplo de autonomia infantil

Em 1943, rodeada pela cidade de Bento Gonçalves no Rio Grande do Sul, surgia a comuna infantil “Passo Alegre”, uma espécie de enclave dissociada do território brasileiro formada por crianças fugidas de seus ambientes familiares. (clique para ampliar foto)

Naquele ano, o prefeito da cidade sulista tinha implementado um método de educação agrícola que obrigava as crianças a largarem a escola convencional para frequentarem centros rurais onde aprenderiam técnicas de plantio desde os primeiros passos. Com cinco anos de idade, Roberto Furazzi, o “Furinha” (menino de franjinha sentado na foto acima), se revoltou com a extinção da vida escolar e liderou o seu grupo de coleguinhas para ocupar a sede de um sítio abandonado. Muito inteligente e hábil com os animais, Furinha treinou gansos para protegerem o local, o que evitou que os adultos intervissem quando descobriram onde seus filhos estavam.

Passo Alegre subsistia pela agricultura e criação de porcos. Com os livros que roubavam da escola desinstalada de Bento Gonçalves, se fazia a vida escolar. Todas as crianças eram autodidatas, ao mesmo tempo professoras e alunas; as aulas eram descentralizadas e extremamente dinâmicas – o que até hoje intriga pedagogos que estudam o caso. Havia uma curiosa procura por livros de estóicos gregos, o que se percebe pelas citações nos cadernos de caligrafia encontrados no local. Já a alimentação diária era extremamente rigorosa,“não precisamos de adultos para comer brócolis” dizia Furinha em um dos seus escritos, “Maurizio me obrigava, mas nunca comia” - comentava logo depois. Maurizio era pai de Furinha, o líder-guri instruiu os outros integrantes do quilombo juvenil a nunca mais se referirem aos pais por “papai” ou “mamãe”.

Ao completarem 10 anos de idade os pequenos se desligavam da comuna, e outros mais novos tomavam seus lugares. Assim a primeira geração deu lugar à segunda e última geração que se desintegrou com o “Dilúvio Adolescente” - como tinha sido previsto por Andrei Matieri (braço direito e consultor espiritual de Furinha, que aparece ao lado dele na mesma foto). Rompendo com o ideal de desligamento de Passo Alegre, que seria debandar ao completar 10 anos, a segunda geração tentou perdurar até os 13 e acabou em guerra.

Em sentido horário: Close do líder Furinha; Andrei Matieri aos 9 anos trabalhando em seus escritos; E a segunda geração de Passo Alegre, que viveu o "Dilúvio Adolescente".

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